![]() |
| Leitura |
Mario Vargas Llosa
Jorge Mario Vargas Llosa, primeiro Marquês de Vargas Llosa nasceu em Arequipa em 28 de março de 1936. É um escritor, jornalista, ensaísta e político peruano, ganhador do Nobel de Literatura de 2010.
Nascido em uma família de classe média, seus pais separaram-se após cinco meses de casamento. Com isto o menino não conheceu o pai até os dez anos de idade.
Em 1946 muda-se para Lima e então conhece seu pai. Os pais reconciliam-se e, durante sua adolescência, a família continuará vivendo ali.
Ao completar 14 anos, ingressa, por vontade paterna, no Colégio Militar. Essa experiência será o tema do seu primeiro livro - La ciudad y los perros ("A cidade e os cachorros", em tradução livre), publicado no Brasil como "Batismo de Fogo" e, posteriormente, como A cidade e os cachorros.
Em 1958 recebe uma bolsa de estudos "Javier Prado" a vai para a Espanha, onde obtém doutorado em Filosofia e Letras. Após isso vai para a França, onde vive durante alguns anos.
Em 1980 começa a ter maiores atividades políticas. Em 1983 preside comissão que investiga o assassinato de oito jornalistas. Em 1987 inicia o movimento político liberal contra a estatização da economia, o que ia de encontro ao presidente Alan García. Em 1990 concorre à presidência do país com a Frente Demócrata (FREDEMO), partido de centro-direita, vencendo o primeiro turno já no segundo, perde a eleição para Alberto Fujimori.
Após isso, retorna a Londres e reinicia suas atividades literárias.
Ganhou o prémio Nobel da literatura em 2010.
Algumas de suas principais obras são:
Conversa na catedral (1969)
A Guerra do Fim do Mundo (1981)
Travessuras da Menina Má (2006)
Sabres e Utopias (2009)
Abaixo trecho de Os Chefes, o primeiro livro de Mario Vargas Llosa.
Os chefes
Javier se adiantou por um segundo:
- Apito! - gritou, já de pé.
A tensão se quebrou, violentamente, como uma explosão. Todos estávamos em pé: o doutor Abásalo tinha a boca aberta. Ficava vermelho, apertando os punhos. Quando, recuperando-se, levantava a mão e parecia prestes a começar um sermão, o apito tocou de verdade. Saímos correndo estrepitosamente, enlouquecidos, insuflados pelo grasnido de corvo de Amaya, que avançava virando carteiras.
O pátio estava sacudido pelos gritos. Os do quarto e do terceiro anos tinham saído antes, formavam um grande círculo que balançava sob a poeira. Quase junto conosco, entraram os do primeiro e do segundo; traziam outras frases agressivas, mais ódio. O círculo cresceu. A indignação era unânime no ginásio. (O primário tinha um pátio pequeno, de mosaicos azuis, na ala oposta do colégio.)
- O serrano quer nos ferrar.
- Sim. Que desgraçado.
Ninguém falava das provas finais. O brilho das pupilas, as vociferações, o escândalo indicavam que tinha chegado a hora de enfrentar o diretor. De repente deixei de fazer esforço para me controlar e comecei a percorrer febrilmente os grupos: 'Ferra a gente e nós ficamos quietos?' 'Precisamos fazer alguma coisa.' 'Precisamos dar o troco.'
Uma mão férrea me tirou do centro do círculo.
- Você não --disse Javier. - Não se meta. Vai acabar sendo expulso. Você sabe muito bem.
- Agora não me importo. Ele vai me pagar por todas. É a minha chance, não está vendo? Vamos entrar em forma.
Em voz baixa fomos repetindo pelo pátio, de ouvido em ouvido: 'formem filas', 'vamos formar, rápido'.
- Formemos filas! --o vozeirão de Raygada vibrou no ar sufocante da manhã.
Muitos, ao mesmo tempo, fizeram coro:
- Formar! Formar!
Os inspetores Gallardo e Romero viram então, surpresos, que de repente o bulício diminuía e as filas se organizavam antes de terminar o recreio. Estavam encostados na parede, ao lado da sala de professores, à nossa frente, e nos olhavam nervosos. Depois se entreolharam. Na porta tinham aparecido alguns professores; também estavam surpresos.
O inspetor Gallardo se aproximou:
- Ouçam! --gritou, desconcertado. - Ainda não...
- Cale-se --respondeu alguém, do fundo. - Cale a boca, Gallardo, veado!
Gallardo ficou pálido. Com passos largos, com gesto ameaçador, invadiu as filas. Às suas costas, vários gritavam: 'Gallardo, veado!'"
(...)
(postagem 121)

Nenhum comentário:
Postar um comentário