quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Resenha Literária: À mão esquerda

Resenha Literária














À mão esquerda

(Fausto Wolff)

Quem, como eu, viveu a década de 70 e, mais do que isso, quem foi adolescente na década de 70, certamente teve Fausto Wolff como ídolo.

Um dos editores do Pasquim, Fausto Wolff escrevia o que nós, adolescentes rebeldes, gostaríamos de falar. Aquela turma formada por ele, Jaguar, Ziraldo, Millor, Henfil, Paulo Francis, entre outros, lavava nossa alma gritando o que gostaríamos pelo menos de sussurrar.

Qual não foi minha alegria, portanto, ao cair em minhas mãos o livro À Mão Esquerda, um livro de Fausto Wolff que foi tão bem recomendado que, mesmo ao ver suas 500 páginas, eu não desanimei e passei a devorar palavra por palavra.

À Mão Esquerda mistura biografia com ficção, mistura personagens reais com nomes reais, como personagens reais com nomes fictícios e personagens que certamente são totalmente fictícios. Isso faz o livro se tornar extremamente saboroso, pois faz o leitor se interessar não só pela história contada, como pela história que envolve a trama, ou seja, a história do Brasil principalmente nos anos de chumbo.

Cada capítulo do livro é narrado por um personagem diferente e, muitas vezes, em épocas diferentes. Com isso a história dá saltos que deixam o leitor menos atento atrapalhado, principalmente no início, enquanto ainda não está familiarizado com os personagens que vão desde os pais e irmãos do personagem principal de nome Percival, até amigos deste, alguns antepassados e parentes próximos. O próprio Percival e um “narrador” são os que mais narram. O que nos ajuda bastante é que cada capítulo tem o nome do narrador do momento e o ano em que aquele capítulo se passa.

Pode parecer meio confuso, mas na verdade não é. O autor consegue levar bem essa história de vários narradores e aos poucos o leitor se situa e quer devorar capítulo por capítulo.

O romance narra a história de uma família de imigrantes alemães desde a antiguidade na Alemanha, passando pelo interior do Rio Grande do Sul, pela capital, chegando o personagem principal ao Rio de Janeiro e daí viajado pelo mundo todo, se exilando voluntariamente ou não, do regime militar que se implantou em 64.

O interessante da narrativa é exatamente essa viagem por anos, décadas e lugares diferentes, vistos pela visão de diferentes personagens.

O título diz respeito a um personagem citado de passagem em alguns momentos do livro e que se intitula “A mão esquerda de Deus” e mata personalidades importantes do país. Mas esse personagem, apesar de dar título ao livro, está longe de ser o personagem principal, nem mesmo um personagem vital à história ele é, embora o final do livro nos traga uma surpresa a respeito dele, a conclusão que eu chego é que se esse personagem não existisse a história não mudaria nada, apenas o título seria outro.

(postagem 203)

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