sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Os 14 princípios de Deming ainda valem para os dias de hoje?

Qualidade














Os 14 princípios de Deming ainda valem para os dias de hoje?


http://www.blogdaqualidade.com.br/os-14-principios-de-deming-ainda-valem-para-os-dias-de-hoje/


Em 1986, W. Edwards Deming descreveu 14 princípios no livro “Saia da Crise”, constituindo a sua teoria revolucionária da gestão, que foi um grande sucesso e funcionou como uma ferramenta de mudança organizacional e institucional no Japão pós-guerra. Ainda nos tempos atuais, honramos todas contribuições do Deming para Gestão da Qualidade e a Qualidade da Gestão, e muitos acreditam que este livro foi o mais central e autoritário recurso que influenciou pesquisas de gestão da qualidade nas últimas duas décadas.

Mas será que esses 14 princípios ainda são válidos na era econômica pós 2008? Hoje não esperamos mais um crescimento brusco da economia, a globalização domina o mundo, e a geração de valor e inovação são cada vez mais importantes para quem quer continuar vivo no mercado.

Vamos analisar.

1 – Constância de Propósito

Um dos problemas do século é a falta do foco, a superficialidade, e assim por diante. As pessoas acabam por se comprometer pouco com as coisas e se sentem cada vez menos parte do problema (ou da solução). Se eu não consigo sentar para escrever este artigo sem ser interrompida por meu celular, e parar o que estou fazendo, será que eu realmente consigo manter uma constância de propósito claro no meu trabalho e na minha vida? A questão é que temos boas intenções e às vezes até objetivos bem claros, mas não nos planejamos pra isso, o que torna mais fácil mudar de ideia e atingir um estado de frustração, mesmo tentando se manter competitivo.

2 – Adote a nova filosofia, estamos numa nova era econômica

Estamos numa era diferente de 1950, quando Deming desenvolveu sua filosofia, e não estamos no mesmo lugar que estávamos em 1980, quando ele estava escrevendo e se tornando um guru, mas então, qual é a nova filosofia? Especialistas dizem que é a transformação individual e o afastar da grande perseguição do lucro ilimitado para a entrega de valor e significado, relacionamentos verdadeiros (comerciais principalmente) e sustentabilidade. Mas essa é a teoria que eu concordo, mas qual é a sua opinião?

3 – Deixe de depender da inspeção para atingir a Qualidade

Este princípio resistiu aos muitos anos, e vai resistir ainda por muito tempo ainda. A Qualidade não pode ser executada pelo medo do auditor, medo da não conformidade (neste caso como penalidade, mas não precisa ser) ou para evitar “os caras chatos da Qualidade“, execute qualidade desde o primeiro estágio do produto.

4 – Pare com a prática de aprovar orçamentos com base no preço, avance no sentido de ter menos fornecedores, mas com relacionamentos verdadeiros, baseados em confiança e lealdade.

As técnicas para se avaliar fornecedores mudaram, e se tornaram mais otimizadas, mais robustas (se você não acha isso, sugiro que procure saber dessas técnicas). Mas será que nossas relações com fornecedores são baseadas em confiança e lealdade? Não sei se isso é possível, principalmente em algumas empresas grandes que dificilmente tem relação pessoal com fornecedores. O que você acha?

5 – Melhoria Contínua

Mais uma vez, outro princípio que resistiu ao tempo. A melhoria contínua, tanto no meio acadêmico quanto profissional, tornou-se como ar que respiramos – é algo que você deve fazer, ou então vai morrer. Fim.

6 – Institua treinamento no local de trabalho

Eu não conheço ninguém que acha isso é uma má ideia, mas realmente temos reinventado a forma de treinar, educar, liderar de maneira mais significativa.

7 – Institua Liderança. O objetivo da alta direção deve ser o de ajudar as pessoas, máquinas e dispositivos a executarem um trabalho melhor.

É algo extremamente necessário, mas vejo poucas empresas que dão grande importância para o ato de liderar. Poucas pessoas estudam sobre, tentam aprimorar sua forma de liderar de um jeito que motive a criatividade, decisão e a qualidade. Acredito numa liderança que delega e não larga, que ensina, que forma pessoas melhores e não só ensina práticas.

8 – Elimine o Medo

De todos os princípios, acredito que esse é o que nós temos que dar mais atenção. Avaliação de desempenho ainda é comum, dinâmicas de autoridade ainda são presentes, devido à natureza da relação entre gerente-empregado, mas o medo é agravado durante os períodos de recessão, quando a perda de emprego se torna uma ameaça, o que torna tudo isso um pouco confuso.

9 – Quebrar barreiras entre departamentos

A ênfase no trabalho em equipe ainda é muito necessária. Ninguém consegue chegar a lugar algum completamente sozinho, e equipes conseguem a chegar a soluções criativas quando conseguem se relacionar bem, a inovação e gestão do conhecimento começam a tomar forma.

10 – Elimine slogans, exortações e metas.

Essa questão eu entendo assim: o meu papel de parede dizendo que eu amo qualidade, não faz de fato eu amar a Qualidade. Mas me comprometer com meus planos de ações, não conformidades e a satisfação do cliente me levam ao que eu realmente acredito. Lemas, slogans, objetivos não significam nada quando não a gente não “se encontra” neles. Isso vale para missão, visão e valores também!

11 – Elimine quotas (padrões de trabalho), números, metas numéricas

É possível executar isso? A maioria (se não todas) organizações vem ignorando esse princípio, mas de fato, ia ser muito interessante ouvir algum caso em que se aplica. Se você tem, conta pra gente!

12 – Remova as barreiras que privam as pessoas de seu direito de orgulhar-se de seu trabalho realizado.

Poucas empresas podem dizer que estão ajudando suas equipes a se tornarem felizes e orgulhosas do que fazem. Acredito que há um grande trabalho de psicologia a ser trabalhado por aqui, quem é que está se preocupando com qual resultado isso pode dar. Um trabalhador que realmente se orgulha do que faz pode produzir mais? E como fazer isso de fato? O que você acha?

13 – Institua um forte programa de educação e auto-aprimoramento.

Muitas empresas tem investido muito em educação continuada. Por mais que a gente tenha muito pra caminhar nesse princípio, principalmente com metas individuais de auto-aperfeiçoamento, quando a melhoria não se relaciona diretamente com o papel da pessoa dentro da organização. Por exemplo, quantos gerentes incentivam seus funcionários a seguir um programa de exercícios, se esse funcionário realmente quer fazer um esforço para tornar-se mais saudável? Você vai me falar que isso não é responsabilidade empresarial, mas se alguém consegue instituir disciplina de si mesmo isso não é um ganho? O que você acha sobre isso?

14 – Engaje todos da empresa no processo de realizar a transformação. A transformação é responsabilidade de todo mundo.

É uma verdade. Mas nós realmente sabemos nossa missão para transformar, sobreviver – e prosperar – em uma economia global em que as regras e os interesses estão fundamentalmente mudando? Eu não tenho certeza de que sabemos o que é necessário, o que temos que fazer. Parece que (como sociedade), estamos lutando para atuar sob as mesmas regras e condições econômicas que nos guiaram nos últimos 50 anos ou mais.

O que pensa sobre os 14 princípios do Deming? É possível aplicá-los ainda nos dias de hoje?

(postagem 211)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Batimento Cardíaco na Corrida

Corridas e Caminhadas













Batimento Cardíaco na Corrida

Fonte: http://www.dicasdecorrida.com.br/

O coração é um dos órgãos mais importantes de nosso corpo. De maneira mais simples, o papel do coração é enviar sangue rico em oxigênio às células, na forma de bombeamento da sístole (contração) e diástole (relaxamento) cardíaco.

Durante a atividade física, o ritmo cardíaco aumenta de forma linear com o ritmo do exercício, intensidade do esforço físico, assim como com o aumento do consumo de oxigênio na atividade muscular.

Em adultos normais, com valores de referência do ritmo cardíaco varia de 60 a 80 bpm em repouso, chegando a 100 bpm, conforme estado emocional, atividade muscular, fatores ambientais, uso de medicamento (betabloqueadores/efedrina), ansiedade entre outros fatores. Em atletas altamente treinados, é comum encontrarmos a bradicardia, valores de batimentos cardíacos abaixo de 60bpm. Isso acontece apenas com pessoas que façam atividades e atletas, mostrando um coração mais eficiente e possuindo boa adaptação das centrais cardíacas. Caso você tenha um batimento cardíaco mais baixo e não seja atleta, pode ser sinal de alerta.

Esse ritmo de nosso coração é individual e altera conforme as citações acima. Mesmo no dia de prova, essa excitação cardíaca é aumentada. Devido à expectativa para a prova, alguns atletas já largam com uma frequência cardíaca mais elevada. Porém, para que esse atleta não sinta dificuldade no percurso, após a largada deve se controlar e deixar o ritmo mais constante possível para que o corpo entre em estado estável do exercício e consiga equilibrar o gasto com o consumo.

Assim como valor de referência dos batimentos cardíacos em repouso, a pergunta que se faz é até quanto meus batimentos cardíacos pode chegar na atividade física e qual o valor mais elevado que um individuo pode atingir.

Para sabermos quanto seu batimento cardíaco pode atingir na atividade física, temos que saber qual é o valor máximo e depois qual deve ser a intensidade de trabalho. Para determinar esse valor de frequência cardíaca máxima alcançada para o treinamento e para a atividade física, temos alguns métodos.

Temos algumas equações com base na média populacional dos grupos estudados, e umas das mais utilizadas e conhecida hoje em dia é de Karvonen (1957), que obteve a seguinte fórmula:

220 – idade

Assim,segundo essa fórmula, para uma pessoa de 30 anos de idade a freqüência cardíaca máxima durante exercícios físicos deverá ser 190 bpm.

A formula de Tanaka et al (2000) é uma das formulas recentes que parece ser a mais recomendada para sujeitos saudáveis, compreendendo a seguinte fórmula
FCM=(208-0,7 x idade).

Seguido essa fórmula, para uma pessoa de 30 anos de idade a freqüência cardíaca máxima durante exercícios físicos deverá ser 187 bpm. Ou seja, há uma pequena variação entre os valores, mas eles estão bem próximos.

Essas fórmulas nos dão um indicativo, o que não deve substituir, de maneira nenhuma, uma avaliação médica mais detalhada.

Os métodos de trabalhos diretos: como o exame de ergometria e ergoespirometria fornece, além de uma FCM no esforço, uma resposta mais próxima dos valores de treinabilidade para o individuo e de maior fidedignidade para a montagem dos programas. A ergoespirometria é um dos métodos diretos que nos mostra mais parâmetros de limiares e individualização e especificidade da capacidade do atleta e não simplesmente mensura a resposta máxima cardíaca no exercício e avaliação de anomalias cardíaca.

Precisamos também definir de que forma podemos controlar os ritmos do coração.

Uma das formas mais utilizadas é o monitor cardíaco, composto pelo transmissor relógio e o receptor de fita localizada no tórax. Esse instrumento ajuda a controlar as intensidades para que o exercício seja feito de maneira segura, além de diminuir os riscos de lesão, não expondo o organismo a certas intensidades, e contribuir para uma evolução mais rápida no condicionamento físico. Pois o atleta saberá quando deve correr no ritmo mais médio a forte e quando esta nos treinos de mais volume, mais fáceis. Isso é fundamental para a evolução e supercompensação do treinamento.

Outra forma de mensurar os batimentos cardíacos é pelo método manual, porém esse método é aplicável pré e pós-treinamento. A mensuração pode ser feita na artéria radial e na artéria carótida.

A mensuração deve se realizar na contagem de 15 segundos x 4, ou 10 x 6, na artéria radial, localizada próximo ao dedo polegar. Na carótida, é preciso tomar os devidos cuidados para que não se aperte a região, promovendo semi-oclusão.

Essas informações irão ajudar a entender um pouco mais do treinamento, dessa “maquina” que temos em nosso corpo, controlarmos da melhor forma os treinamentos para que tenhamos uma evolução e ganhos de condicionamento físico satisfatório sem grandes sobrecargas para o organismo.

(postagem 210)

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

5 maneiras de ser menos irritante

Gestão












5 maneiras de ser menos irritante

Fonte:  https://georgenunes.wordpress.com/2014/11/24/5-maneiras-de-ser-menos-irritante/


O primeiro passo para o crescimento de uma boa carreira é reconhecer o quanto suas habilidades sociais são importantes. Por definição, uma carreira é uma super maratona de habilidades sociais.

Para alguém com pouca habilidade social, não é suficiente lidar com o problema; para ter sucesso no trabalho, você precisa de algumas orientações, fazer a ponte entre suas habilidades sociais e a dos outros.

Assim aqui estão algumas regras concretas para se sair melhor no trabalho, se você tem a síndrome da inabilidade social.


Passe uma quantidade limitada de tempo com as pessoas.

Uma das coisas que é alarmante para as pessoas com habilidades sociais é como alguém com a síndrome têm tão poucos amigos e relacionamentos.

Nunca ouvi alguém com inabilidade social reclamar disso, não é algo que sentimos como uma perda. Nós só precisamos de uma pequena quantidade de intimidade com os outros em nossas vidas.

A maneira de lidar com isso é passar menos tempo com as pessoas. Podemos ser normais em pequenas doses. Podemos ser encantadores em pequenas doses. Então, saia para jantar, mas, em seguida, vá para casa. Vá ao piquenique da empresa, mas fale com as pessoas só um pouco. Em seguida, saia.

No trabalho você não precisa gastar muito tempo com as pessoas. Você pode ser o inteligente, mas estranho, contanto que não seja muito estranho. Conviva com as pessoas um pouco. Em seguida, volte para sua sala.


Não fale com o seu chefe sobre sua deficiência.

As pessoas não se preocupam com os seus problemas pessoais. Além disso, seu chefe não vai saber o que fazer.

Em vez disso, faça perguntas ao chefe sobre situações sociais. Devo enviar um e-mail de agradecimento a esse cliente? Se ele disser sim então você faz.

Quando faz perguntas específicas sobre situações sociais, seu chefe percebe e fica mais tranquilo que você está ciente do problema e que aceita conselhos. Isso ajuda quando seu chefe observar você agindo como um idiota social. Você vai diferenciar-se da multidão quando pedir ajuda.


Seja muito bom no que faz.

Eu escrevo obsessivamente sobre o quão importante é ser uma estrela no trabalho. Na verdade é mais importante para pessoas com inabilidades sociais. Esta é a única maneira de permanecer empregável. Você sempre vai ser difícil de lidar. Você precisa fazer valer a pena o tempo dos outros.

Muitas vezes, as pessoas que são agradáveis não precisam ser boas no que fazem. As pessoas adoram estar ao redor delas. E é justo, porque alguém que todo mundo gosta, na verdade, faz a equipe mais produtiva.

As pessoas que se destacam, que são ótimas no que fazem muitas vezes são estranhas e pensam de maneira diferente. É o que faz elas se destacarem. Assim, quanto mais você é bem sucedido em sua carreira, mais é esperado que seja um pouco diferente.


Faça a política de escritório sendo totalmente direto.

Existe a política de escritório em todos os escritórios. Porque a política de escritório é o que faz as pessoas se darem bem. Se você tem a síndrome da inabilidade social, não tem como reconhecer todas as sutilezas sociais que ocorrem em um escritório: o vingativo, o agressivo, o passivo, é tudo muito complicado. Então, não jogue esse jogo, seja transparente e direto. Infelizmente, muitas vezes vai parecer que você é insensível.

Você precisa olhar para o rosto das pessoas. E se você tem uma reação ruim quando diz algo a alguém, mesmo se você achar que não é uma coisa ruim para dizer, você precisa parar e se perguntar se você feriu os sentimentos dessa pessoa.  Me pergunto isso quatro ou cinco vezes ao dia. “Você está com raiva?” A maioria das vezes as pessoas se surpreendem que eu não saiba. Mas eu continuo a perguntar. Não há outra maneira de descobrir.


Não fique frustrado pelas regras.

Recentemente, eu estive lembrado sobre o quão difícil é aprender as regras de namoro. Eu ficava frustrado sobre o namoro. Eu não entendia por que as pessoas bebem em um encontro. Eu não entendia por que não dizer, no início do encontro, que você quer ter relações sexuais e dizer só no final.

O melhor a fazer é apenas fazer o que as outras pessoas estão fazendo. Não faz sentido, mas tente se encaixar.

Existem regras como estas também no escritório. Simplesmente as siga. Não pergunte por que existem. Não vão fazer sentido mesmo, mas tudo bem.

(postagem 209)

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Eça de Queiroz

Leituras













Eça de Queiroz

Eça de Queiroz (1845-1900) foi um escritor português. "O Crime do Padre Amaro" foi o seu primeiro grande trabalho, marco inicial do Realismo em Portugal. Foi considerado o melhor romance realista português do século XIX. Eça foi o único romancista português que conquistou fama internacional nessa época. Foi duramente criticado por suas críticas ao clero e à própria pátria. A crítica social unida à análise psicológica aparece também nos livros "O Primo Basílio", "O Mandarim", "A Relíquia" e "Os Maias".

Eça de Queiroz nasceu no dia 25 de novembro, na cidade de Póvoa de Varzim, Portugal. Filho do brasileiro José Maria Teixeira de Queiroz e da portuguesa Carolina Augusta Pereira de Eça. Ingressou em 1861 na Universidade de Coimbra, onde em 1866 se formou em Direito.

Exerceu a advocacia e o jornalismo em Lisboa. Em Lisboa revelou-se como escritor no folhetim da Gazeta de Portugal. Em 1870, com a colaboração do escritor Ramalho Ortigão, escreveu o romance policial "O Mistério da Estrada de Sintra", e em 1871 "As Farpas", sátiras à vida social, publicadas em fascículos.

Em 1873 ingressa na carreira política e em 1872 é nomeado cônsul em Havana, e em 1874 é nomeado cônsul na Inglaterra.

O romance "O Crime do Padre Amaro", publicado em 1875, foi o marco inicial do Realismo em Portugal. Nele, Eça faz uma crítica violenta da vida social portuguesa, denuncia a corrupção do clero e da hipocrisia dos valores burgueses. A crítica social unida à análise psicológica aparece também no romance "O Primo Basílio", publicado em 1878, em "Mandarim", 1880, e em "Relíquia", 1887.

Em 1888 foi nomeado cônsul em Paris, ano que publica "Os Maias". Nesse romance observa-se uma mudança na atitude irreverente de Eça de Queiroz, o autor "deixa transparecer os mistérios do destino e as inquietações do sentimento, as apreensões da consciência e os desequilíbrios da sensualidade"

Surge então uma nova fase literária, em que Eça deixa transparecer uma descrença no progresso. Manifesta a valorização das virtudes nacionais e a saudade da vida no campo. É o momento dos romances "A Ilustre Casa de Ramires" e "A Cidade e as Serras", e o conto "Suave Milagre" e as biografias religiosas.

José Maria Eça de Queiroz morreu em Paris, no dia 16 de agosto de 1900.

Vamos ler um trecho do conto “O Milhafre”, publicado no livro “Últimos Contos”.


O Milhafre
(Eça de Queiroz)

Um dia um homem entrou numa casa arruinada. No portal havia um nicho com um santo de pedra, que lia uma Bíblia, também de pedra, Em redor, na beira dos telhados, nas fendas das pedras, no canto do nicho, havia ervas molhadas e verdes, e ninhos de andorinhas. O santo tinha sempre as suas pálpebras de pedra descidas sobre o livro sagrado. Passavam as cavalgadas, os enterros silenciosos, os noivados, os cortejos, a pompa dos regimentos, e o santo lia atentamente o seu livro de pedra.

Vinham defronte dançar saltimbancos, passavam as frescas serenatas, vinham dos montes rebanhos e ceifeiras; o santo tinha os seus olhos de pedra sobre as páginas inertes. As devotas, lentas e desfalecidas, beijavam-lhe os pés nus, os homens severos saudavam-no, as crianças olhavam-no com os seus grandes olhos inanimados, os cães ladravam-lhe à calva: o santo, curvado, seguia o espírito de Deus por entre as letras do livro.

Passavam os fardos, os mercadores crestados pela indústria, os poetas lânguidos que desfalecem nas cançonetas, os histriões que cantam nos tablados, mulheres mais preciosas que o âmbar, os sábios, os mendigos, as virtuosas e as melodramáticas: — e o santo lia o seu livro profético.

Ora as torres gloriosas, as bandeiras, os ciprestes — ais de folhagem — os homens, perguntavam entre si: — “Que lê tão atentamente aquele santo, que nem sequer nos olha?” E os enxurros, que passam rosnando, diziam: — “Que lê tão devotamente aquele santo, que nem sequer nos escuta?”

Ora o santo lia assim. De noite, quando as bandeiras caem de sono, quando os homens estão cheios de comida e de inércia — a Lua, que ao nascer é material e metálica como uma moeda de ouro nova, depois, na suavidade do azul, é tão pura, tão imaculada, tão consoladora, como uma chaga de Cristo por onde se lhe visse a alma. A essas horas, uma criança, tão pobre e tão esfarrapada como o antigo pastor S. João, vinha deitar-se junto do nicho do santo. E então, o santo afastava um pouco o livro, e toda a noite ficava cobrindo, com a grande luz dos seus olhos, aquela criança miserável, adormecida sobre as lajes.
(...)


(postagem 208)

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

5 passos para viajar de bicicleta

Bike













5 passos para viajar de bicicleta

http://www.ondepedalar.com/cicloturismo/item/5786-5-passos-para-viajar-de-bicicleta


Dicas para fazer a primeira cicloviagem

Vontade

Primeiro é preciso querer fazer a viagem. 90% de uma viagem com certo grau de aventura é resolvida na vontade.
Por mais preparado, ou por mais que você gaste com equipamentos de primeira, perrengues acontecem. SEMPRE.  E para resolver problemas inesperados é preciso que o espírito esteja preparado para tal. Inclusive pra fazer a viagem só, caso não apareça um companheiro com as mesmas ideias.

Pedalar

É preciso estar pedalando para enfrentar uma viagem. Seja esta viagem autônoma ou guiada por uma agência.
Quando falamos em pedalando, pode até ser spinning em academia ou passeio no parque, mas as pernas precisam ter alguma adaptação para o ciclismo.
O tipo de viagem que você vai poder fazer dependerá do quanto você pedala. Fazer Santiago de Compostela sendo um pedaleiro de parque ou academia, esqueça.
Os exemplos acima, lhe credenciam pra fazer uma viagem guiada e bem leve, talvez só por praias, mas já é um começo.
O ponto ideal para suportar viagens autônomas é estar confortável com um pedal de 40 km durante um dia inteiro.

Pesquisar

Não sendo uma viagem guiada, pesquisar e perguntar é algo fundamental para fazer cicloturismo.
Nada contra o cicloturismo com agências, que é também divertido, mas sair por aí de bike sem ter alguém dizendo onde parar ou o que fazer é algo muito mais rico. E para isso é necessário ser curioso e gostar de descobrir coisa nova todo dia. Esse aprendizado começa antes da partida, perguntando a quem foi, pesquisando e coletando informações.
Alguns diriam que esta etapa seria o planejamento, mas em uma viagem autônoma você decide onde começar e onde terminar para saber a distância. Depois divide esse valor por sua média diária para saber quantos dias pedalando, soma um ou dois de reserva e tem o total de dias. O resto é coletar informações dos lugares por onde vai passar e partir, portanto pesquisar acima de tudo. Ficar fazendo planilha de onde vai dormir todo dia é bobagem.
Deixe a viagem acontecer.

Se equipar

Compra a bike mais cara não é garantia de uma viagem sem problemas mecânicos. Pode ser exatamente o contrário.
Conjuntos mais precisos suportam menos peso e condições adversas. Se algo sofisticado der problema no meio do nada, tudo complica.
Bicicleta de cicloturismo deve ser confortável e resistente.
Nos acessórios, preço maior, pode sim significar mais conforto.
Quanto maior for a viagem, mais um equipamento que resolva de primeira um problema é melhor. Um alforje estanque onde você não precise ficar ensacando duplamente sua roupa, peças de vestuário com tecidos especiais que esquentam e secam rápido facilitam a vida e pesam menos, lanternas que realmente iluminam sem consumir muita bateria, etc.
Pesquise e peça dicas de quem realmente já usou em viagem os produtos. Pitaco qualquer um de grupos de internet sabe dar.

Testar

Quanto achar que tem o kit ideal, teste em uma viagem curta. Se o projeto é um pedal de uma semana, faça um de dois dias usando tudo. De malabike a acampamento. Se for de 20 dias, faça um teste de 4 dias perto de casa. Assim você evita deixar peças de roupa em arbustos no meio do caminho ou fazer doações involuntárias no meio da viagem. Eu já vi isso acontecer.

Depois disso é só marcar a data e partir.
Sempre vai faltar algo, afinal perrengue faz parte da brincadeira.
Improvise, se descubra um revolvedor de problemas como nunca achou que fosse e divirta-se.
O máximo que pode acontecer é você ficar sem voz na volta de tanto contar histórias para os amigos.

(postagem 207)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Paulinho da Viola

Músca














Paulinho da Viola

Filho do músico Cesar Faria, Paulinho da Viola cresceu num ambiente naturalmente musical. Na sua infância em Botafogo, bairro tradicional da zona sul do Rio de Janeiro onde nasceu em 12 de novembro de 1942, teve contato constante com a música através do pai, violonista integrante do conjunto Época de Ouro. Nos ensaios familiares do conjunto, Paulinho conheceu Jacob do Bandolim e Pixinguinha, entre muitos outros músicos que se reuniam para fazer choro e eventualmente cantar valsas e sambas de diferentes épocas.

Ao longo dos anos 70, Paulinho gravou em média um disco por ano, ganhou diversos prêmios e se apresentou por diversas cidades no Brasil e no mundo. Já nos anos 80, gravou mais quatros discos e manteve-se como um dos principais nomes do samba no país. Nos anos 90, entrou numa nova fase, onde a imprensa e os críticos passaram a vê-lo como um músico mais sofisticado e maduro. Mesmo sem perder seu apelo popular, Paulinho gravou um de seus mais importantes trabalhos, Bebadosamba e montou o espetáculo homônimo.

O trabalho de Paulinho hoje é visto como um elo entre diversas tradições populares como o samba, o carnaval e o choro, além de suas incursões em composições para violão e peças de vanguarda. Um dos maiores representantes do samba e herdeiro do legado de músicos como Cartola, Candeia e Nelson Cavaquinho mostra que está sempre se renovando e produzindo sem abandonar seus princípios e valores estéticos.

Vamos ler e ouvir um dos seus grandes sucessos.


Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida
(Paulinho da Viola)

Se um dia
Meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar
Meu coração
Tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar...

Porém! Ai porém!
Há um caso diferente
Que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de Carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em novo amor
Quando alguém
Que não me lembro anunciou
Portela, Portela
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou...

Ah! Minha Portela!
Quando vi você passar
Senti meu coração apressado
Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir
Aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar!


Ouvir












https://www.youtube.com/watch?v=LAEXGgWXphs

(postagem 206)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sua empresa precisa de um sistema imunológico!

Qualidade














Sua empresa precisa de um sistema imunológico!

Fonte: http://www.blogdaqualidade.com.br


Todos os organismos vivos têm um sistema imunológico que os defende dos milhões de bactérias, vírus, toxinas e parasitas que tentam invadi-los o tempo todo. É um sistema complexo, formado por várias partes que atuam com enorme autonomia.
Nos seres humanos, por exemplo, o sistema inclui barreiras de defesa como a pele, a saliva e as lágrimas, mecanismos de limpeza, como sistema linfático e elementos de ataque, como uma grande variedade de células brancas e anticorpos.

O sistema imunológico é capaz de agir instantaneamente em qualquer parte do organismo, assim que algum perigo se apresente. Sensores movimentam-se o tempo todo no corpo e reconhecem imediatamente o que é e o que não é parte dele. Diante de uma ameaça, o sistema inicia uma ação local instantânea. Simultaneamente, outros componentes do organismo são colocados em alerta e passam a cooperar para eliminar o problema. O sistema imunológico está o tempo todo em movimento, desde as suas barreiras mais externas (por isso não acordamos pela manhã com uma camada de bolor sobre nós: a maioria das bactérias e esporos que se depositam são eliminados pelas substâncias bactericidas secretadas pela pele) até os anticorpos (que imediatamente migram para qualquer ponto em que o corpo esteja sendo atacado).

As organizações precisam de um tipo de mecanismo que permita o mesmo dinamismo de velocidade e ação que o sistema imunológico, onde a maior parte da energia deve estar alocada a atividades-fim, respostas locais velozes e eficazes. O sistema imunológico não “desperdiça” tempo em racionalizações, explicações, hesitações. Se assim fosse, o organismo não resistiria às sucessivas tentativas de invasões e ataques. Do mesmo modo, as organizações regidas pelo movimento e pela velocidade não desperdiçam tempo com excesso de conversas e explicações. E não é um radicalismo, não é questão de fazer tudo na loucura, é questão de agir para o benefício da atividade-fim com tempo hábil e propício para ganhar competitividade, pois focado na ação e auferem os benefícios de estarem sempre à frente.

Não esquecendo que o corpo humano é um sistema complexo e está hábil para reagir aos perigos e problemas, não vai adiantar você tentar implantar isso na sua organização se o nível de maturidade e competência for baixa, obviamente vai fracassar, por isso é necessária baixa velocidade interna para preparar a equipe e gerar um sistema imunológico capaz de trazer inovações. A velocidade e movimento é resultado de uma ação de competência e comunicação interna muito maior.

(postagem 205)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Bê-a-Bá do corredor - Parte 3

Corrida e Caminhada













Bê-a-Bá do corredor
Parte 3

Para quem começou agora, veja esse dicionário com os termos mais utilizados na corrida. Estamos fazendo a postagem em três etapas, iniciamos com o post do dia 24 de setembro, prosseguindo com o post de 13 de outubro e estamos finalizando hoje. Boa leitura e bom proveito.

A corrida possui um vocabulário específico, e não saber algumas palavras pode deixar um atleta “boiando” nas conversas durante os treinos e provas, ou sem entender uma instrução do seu treinador. Para acabar com qualquer dúvida reunimos em um pequeno dicionário os principais bordões utilizados nas ruas do Brasil.

Macrociclo: ciclo mais amplo da periodização, que engloba 100% do treinamento para um objetivo específico do corredor. Composto por vários mesociclos, é dividido em período de base, específico, competitivo e de transição.

Macronutrientes: são nutrientes de que o organismo necessita diariamente em maior quantidade para realizar suas principais funções. Fazem parte deste grupo carboidratos, proteínas e lipídios.

Marcha atlética: esporte olímpico. É uma caminhada em alta velocidade, em que o atleta não pode tirar os dois pés do solo ao mesmo tempo.

Mesociclo: ciclo médio da periodização, que engloba de três a quatro semanas de treinamento para um objetivo específico. É composto por vários microciclos, e suas variações de intensidade e volume visam a melhora da performance do atleta.

Metabolismo basal : é a quantidade mínima de energia (calor) que corpo humano gasta em repouso para realizar suas funções básicas, como manter a temperatura corpórea, a respiração e a circulação sanguínea.

Microciclo: menor ciclo da periodização, que engloba uma semana do treinamento para um objetivo específico.

Micronutrientes: nutrientes requeridos pelo organismo em pequenas quantidades, mas essenciais para as funções do corpo. Fazem parte deste grupo as vitaminas e os minerais.

Musculação: conjunto de exercícios realizados com auxílio de equipamentos destinado a aumentar a força muscular.

Nutrientes: substâncias essenciais para o bom funcionamento do organismo. São divididos em carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas e sais minerais.

Overtraining: ocorre quando o atleta exagera em seus treinamentos e não respeita o descanso adequado. Com isso, o corpo perde a capacidade de se recuperar e existe uma queda no rendimento. Seus sintomas são parecidos com as dores naturais de um treino forte, mas com o tempo os problemas aumentam e o corredor pode ter perda de apetite, dores frequentes, mudança de humor, cansaço excessivo e aumento da frequência cardíaca em repouso.

Pace (pronuncia-se “peice”): é o ritmo que o corredor imprime durante uma prova ou treino, medido em quilômetros por minuto (km/min).

Periodização: é a divisão do tempo total de preparação para um objetivo (macrociclo) em períodos menores (mesociclo e microciclo). Visa controlar melhor a intensidade, o volume do treino e o descanso.

Pipoca: atleta que participa de uma corrida sem ter feito a inscrição para a prova. Em algumas regiões do País este corredor também é conhecido como “pirata” ou “fantasma.

Postos de abastecimento: áreas montadas ao longo do percurso de uma prova com água, bebidas esportivas, frutas, alimentos e suplementos alimentares para que os corredores possam se reidratar e repor as energias durante ou após a corrida.

Propriocepção: é a capacidade de reconhecer a localização espacial das partes do corpo sem utilizar a visão. Permite o equilíbrio postural e a execução de várias atividades práticas do dia a dia.

Quebrar: palavra utilizada quando um atleta perde as forças e não consegue completar uma prova ou treino, ou precisa diminuir o ritmo para conseguir chegar até o final.

Regenerativo: treino de baixa intensidade que funciona como um descanso ativo para o corpo. Normalmente é feito no dia seguinte a uma atividade de alta intensidade, e ajuda a evitar lesões musculares e a possibilidade de overtraining.

Rodagem: treino de corrida com distância variável e ritmo constante com intensidade leve ou moderada.

Solto: corrida leve e sem se preocupar com o ritmo. Geralmente é utilizada no aquecimento, desaquecimento ou treino regenerativo.

Suplementação alimentar: é a ingestão de produtos industrializados com o intuito de fornecer ao organismo todos os nutrientes necessários durante o treinamento e para a recuperação pós-exercício.

Tempo run: é um treino contínuo de velocidade. Nele, o corredor percorre determinada distância em um ritmo contínuo e forte, apenas um pouco acima do que ele está acostumado a fazer em provas.

Teste ergoespirométrico: exame que mede os limiares, o VO 2 Máx e alguns outros parâmetros importantes para a prática de exercícios e a elaboração de um treino.

Trote: corrida em ritmo leve e agradável, em que a frequência cardíaca se mantém estável e, por isso, é possível realizar o exercício por um longo tempo.

Treino específico: é realizado em percursos com altimetria e temperaturas semelhantes às da prova, para que o atleta se acostume com as características que encontrará no dia da corrida.

VO 2 máximo: volume máximo de oxigênio que o corpo consegue consumir durante o exercício físico. É um indicador de potencial do atleta e pode ser melhorado com os treinos, mas cada indivíduo possui um limite natural.

(postagem 204)

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Resenha Literária: À mão esquerda

Resenha Literária














À mão esquerda

(Fausto Wolff)

Quem, como eu, viveu a década de 70 e, mais do que isso, quem foi adolescente na década de 70, certamente teve Fausto Wolff como ídolo.

Um dos editores do Pasquim, Fausto Wolff escrevia o que nós, adolescentes rebeldes, gostaríamos de falar. Aquela turma formada por ele, Jaguar, Ziraldo, Millor, Henfil, Paulo Francis, entre outros, lavava nossa alma gritando o que gostaríamos pelo menos de sussurrar.

Qual não foi minha alegria, portanto, ao cair em minhas mãos o livro À Mão Esquerda, um livro de Fausto Wolff que foi tão bem recomendado que, mesmo ao ver suas 500 páginas, eu não desanimei e passei a devorar palavra por palavra.

À Mão Esquerda mistura biografia com ficção, mistura personagens reais com nomes reais, como personagens reais com nomes fictícios e personagens que certamente são totalmente fictícios. Isso faz o livro se tornar extremamente saboroso, pois faz o leitor se interessar não só pela história contada, como pela história que envolve a trama, ou seja, a história do Brasil principalmente nos anos de chumbo.

Cada capítulo do livro é narrado por um personagem diferente e, muitas vezes, em épocas diferentes. Com isso a história dá saltos que deixam o leitor menos atento atrapalhado, principalmente no início, enquanto ainda não está familiarizado com os personagens que vão desde os pais e irmãos do personagem principal de nome Percival, até amigos deste, alguns antepassados e parentes próximos. O próprio Percival e um “narrador” são os que mais narram. O que nos ajuda bastante é que cada capítulo tem o nome do narrador do momento e o ano em que aquele capítulo se passa.

Pode parecer meio confuso, mas na verdade não é. O autor consegue levar bem essa história de vários narradores e aos poucos o leitor se situa e quer devorar capítulo por capítulo.

O romance narra a história de uma família de imigrantes alemães desde a antiguidade na Alemanha, passando pelo interior do Rio Grande do Sul, pela capital, chegando o personagem principal ao Rio de Janeiro e daí viajado pelo mundo todo, se exilando voluntariamente ou não, do regime militar que se implantou em 64.

O interessante da narrativa é exatamente essa viagem por anos, décadas e lugares diferentes, vistos pela visão de diferentes personagens.

O título diz respeito a um personagem citado de passagem em alguns momentos do livro e que se intitula “A mão esquerda de Deus” e mata personalidades importantes do país. Mas esse personagem, apesar de dar título ao livro, está longe de ser o personagem principal, nem mesmo um personagem vital à história ele é, embora o final do livro nos traga uma surpresa a respeito dele, a conclusão que eu chego é que se esse personagem não existisse a história não mudaria nada, apenas o título seria outro.

(postagem 203)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Domínio emocional e o sucesso na carreira

Gestão












Domínio emocional e o sucesso na carreira

Fonte: http://www.dicasprofissionais.com.br
Por: Silvio Celestino

A mordida do jogador Suárez na partida entre Uruguai e Itália, nos faz refletir a que ponto alguém pode chegar em momento de pressão. Nas empresas, pessoas também agem de forma insana em situações extremas. Essas atitudes causam sérios danos a suas carreiras e aos indivíduos ao seu redor.

O mundo sempre requer mais de todos. As novas tecnologias nos pressionam a um processo permanente e, por vezes, desconfortável de aprendizado contínuo. Os chefes solicitam cada vez mais trabalho em menor tempo e nem sempre fornecem os recursos necessários. Boa parte dos funcionários são mal educados pelas famílias e escolas, e não estão preparados para ser liderados e trabalhar em equipe. E, finalmente, nós mesmos somos implacáveis conosco. Achamos que nunca somos o suficiente e que outros são melhores.

Isso tudo acarreta uma vida profissional de adversidades sucessivas e que atingem níveis insuportáveis de pressão e estresse. É quando as condições nos levam a um esgotamento que pode ser físico, mental, mas, também, emocional.

A causa disso é que somos muito focados em nosso desenvolvimento intelectual, mas nos esquecemos que, no longo prazo, precisamos dominar também nossas emoções. São elas que, em desequilíbrio, nos levarão a ações que prejudicarão de forma decisiva nossa carreira e, também, as pessoas que convivem conosco – no trabalho e em casa.

A solução passa, necessariamente, pelo autoconhecimento. Você não entra em uma academia de ginástica e inicia seu treino com pesos de 80 Kg. Primeiro você faz uma avaliação médica, depois começa seu desenvolvimento com pesos menores e, paulatinamente, aumenta a carga.

Do mesmo modo, se você é sério a respeito de seu desenvolvimento emocional, deve ser capaz de perceber que precisa se aprimorar. Pedir e ouvir com atenção feedback’s a seu respeito quando está sob pressão. Como você se comporta quando as coisas vão mal? O que você faz quando erra? E quando o mercado ou a empresa está em crise, você chama a responsabilidade para si, foge, ou culpa os outros pelos acontecimentos?

Com esses feedback’s você pode pedir a avaliação de profissionais de recursos humanos, consultores da área ou um psicólogo. Nos casos mais leves, onde o descontrole emocional deriva de sua falta de método para lidar com a agenda, a gestão de pessoas e de operações, utilize o auxílio de um mentor ou um coach. Eles contribuirão para que você aprenda a utilizar as melhores práticas com as questões de liderança e mesmo com as emoções derivadas de crenças improdutivas. Para as questões mais profundas, relacionadas a traumas do passado, por exemplo, você precisará de um profissional habilitado, neste caso um psicólogo, ou psiquiatra.

O importante é que você seja capaz de, paulatinamente, lidar com mais adversidades e estresse. Afinal, quanto maior sua posição dentro da empresa, maior a responsabilidade. Não tenha ilusões: sentar na cadeira de um diretor-presidente não é para qualquer um. Não é por acaso que vemos muitos executivos com sérios problemas para conduzir com equilíbrio suas vidas profissionais e pessoais. Nenhum caminho é fácil, mas, sozinho, é muito mais difícil.

Um bom líder sabe que deve desenvolver sua inteligência emocional e auxiliar os demais a fazerem o mesmo. Para isso, precisa ter um profundo interesse sobre como aprimorar sua comunicação, comportamento e o relacionamento com as pessoas. Principalmente em momentos de estresse.

Ignorar seus limites emocionais é um caminho desastroso. Desenvolver-se e expandi-los é uma escolha madura, excelente para gerar resultados duradouros e ter sucesso profissional e na vida particular. Acredite, as pessoas que convivem com você o agradecerão muito por isso!

(postagem 202)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Baioque

Chico e sua música














Baioque

A cabeça privilegiada de Chico Buarque nos premiou com belíssimas pérolas que já foram analisadas por diversas mentes, brilhantes ou não. Porém a ideia aqui não é fazer uma análise poética ou musical de suas canções, mas sim brincar com as letras sempre inteligentes desse autor e tentar entender o que ele disse nas linhas e/ou nas entrelinhas. Enfim, pesquisando e analisando, busco aprender um pouco mais sobre meu ídolo.


Escrever sobre músicas menos badaladas do Chico é muito difícil, pois envolve basicamente opiniões próprias, baseadas em interpretação pessoal e sem muito material para ler e estudar. Mas eu vou correr esse risco, escrevendo sobre Baioque, uma música de 1972 que certamente não está entre as mais apreciadas pelos fãs de Chico Buarque, mas que me fascina por motivos que até eu desconheço.

A música começa a ficar interessante a partir do título, Baioque que é uma mistura de Baião com Rock. A partir do título já se tem uma idéia de que o autor vai misturar sertão com metrópole, e é isso mesmo que acontece. Ele começa a música num ritmo nordestino e, como um “cabra da peste”, já avisa que “Quando eu canto/ que se cuide/ quem não for meu irmão” e prossegue “O meu canto/ punhalada/ não conhece o perdão”.

Pode haver melhor maneira para começar uma música cantada por um nordestino sofrido e talhado pelo sol, solo seco e sofrimento gerado pela seca? Certamente não, mas a partir daí entra a veia poética, fazendo transbordar poesia e metáforas inteligentes:

“Quando eu rio
Rio Seco
Como é seco o sertão”

E eu pergunto: é ou não é gênio? A facilidade com o jogo com as palavras: Rio do verbo rir, com o substantivo rio já seria um achado, mas ainda emenda com “rio seco/ como é seco o sertão”. E, ainda:

“Meu sorriso é uma fenda
Escavada no chão”

É impossível não visualizar o sorriso desdentado (desculpem se isso parece preconceituoso) do nordestino carente de tudo, ao mesmo tempo em que ele faz uma ligação com as fenda do chão carente de chuva.

Mas as metáforas não param:

“Quando eu choro
É uma enchente
Surpreendendo o verão
É o inverno
De repente
Inundando o sertão”

Pura poesia. Sem comentários!

E por aí prossegue a linda letra, ainda em ritmo de baião até que uma palavrinha dá o sinal de que tudo vai mudar:

“Mamy”

É o sinal de mudança, onde o autor indica que o lado rock vai entrar em sena, muda-se o discurso e o ritmo:

“Não quero seguir definhando sol a sol
Me leva daqui
Eu quero partir
Requebrando um rock and roll”

A partir desse momento o ritmo passa a ser o rock e o sujeito se distancia do agreste rude e informa em ritmo frenético que “eu quero ligar/ no sol de Ipanema/ cinema e televisão”

Realmente, o Chico Buarque não faz nada que seja água-com-açucar. Até um tema banal (em outras mãos) como o de Baioque vira uma obra prima.

(postagem 201)

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Graciliano Ramos

Leitura













Graciliano Ramos

Nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, sertão de Alagoas, filho primogênito dos dezesseis que teriam seus pais. Viveu sua infância nas cidades de Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE), sob o regime das secas e das surras que lhe eram aplicadas por seu pai, o que o fez alimentar, desde cedo, a idéia de que todas as relações humanas são regidas pela violência.

Em 1904, em Viçosa, Alagoas, Graciliano cria um jornalzinho dedicado às crianças, o "Dilúculo". Posteriormente, redige o jornal "Echo Viçosense", que tinha entre seus redatores seu mentor intelectual, Mário Venâncio.

Em 1909, passa a colaborar com o "Jornal de Alagoas", de Maceió, publicando o soneto "Céptico" sob o pseudônimo de Almeida Cunha.

Em 1914, embarca para o Rio de Janeiro. Nesse ano e parte do ano seguinte, trabalha como revisor de provas tipográficas nos jornais cariocas "Correio da Manhã", "A Tarde" e "O Século". Colaborando com o "Jornal de Alagoas" e com o fluminense "Paraíba do Sul", sob as iniciais R.O. (Ramos de Oliveira). Volta a Palmeira dos Índios, em meados de 1915, onde trabalha como jornalista e comerciante. Casa-se com Maria Augusta Ramos.

Em 1927, é eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, cargo no qual é empossado em 1928. Dois anos depois, renuncia ao cargo de prefeito e se muda para a cidade de Maceió, onde é nomeado diretor da Imprensa Oficial. Casa-se com Heloisa Medeiros. Colabora com jornais usando o pseudônimo de Lúcio Guedes.

Demite-se do cargo de diretor da Imprensa Oficial e volta a Palmeira dos Índios, onde funda urna escola no interior da sacristia da igreja Matriz e inicia os primeiros capítulos do romance São Bernardo.

O ano de 1933 marca o lançamento de seu primeiro livro, "Caetés", que já trazia consigo o pessimismo que marcou sua obra. Esse romance Graciliano vinha escrevendo desde 1925.

No ano seguinte, publica "São Bernardo".

Em 1938, publica seu famoso romance "Vidas secas".

Em 1940, freqüenta assiduamente a sede da revista "Diretrizes", junto de Álvaro Moreira, Joel Silveira, José Lins do Rego e outros "conhecidos comunistas e elementos de esquerda", como consta de sua ficha na polícia política.

Publica uma série de crônicas sob o título "Quadros e Costumes do Nordeste" na revista "Política", do Rio de Janeiro.

Filia-se ao Partido Comunista, em 1945, ano em que são lançados "Dois dedos" e o livro de memórias "Infância".

Em 1946, publica "Histórias incompletas", que reúne os contos de "Dois dedos", o conto inédito "Luciana", três capítulos de "Vidas secas" e quatro capítulos de "Infância".

Os contos de "Insônia" são publicados em 1947.

O livro "Infância" é publicado no Uruguai, em 1948.

No janeiro de 1953, é internado na Casa de Saúde e Maternidade S. Vitor, onde vem a falecer, vitimado pelo câncer, no dia 20 de março, às 5:35 horas de uma sexta-feira. É publicado o livro "Memórias do cárcere", que Graciliano não chegou a concluir, tendo ficado sem o capítulo final.

Postumamente, são publicados os seguintes livros: "Viagem", 1954, "Linhas tortas", "Viventes das Alagoas" e "Alexandre e outros heróis", em 1962, e "Cartas", 1980, uma reunião de sua correspondência.


Um Cinturão
(Graciliano Ramos )

As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural.

Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, girando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal — e houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, em querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. Se não fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago. E estaria esquecida. A história do cinturão, que veio pouco depois, avivou-a.

Meu pai dormia na rede, armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se a minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras.

Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria ao açude, pela do corredor acharia o pé de turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo.

Ninguém veio, meu pai me descobriu acocorado e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação.

Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram depois, imagino os berros de meu pai, a zanga terrível, a minha tremura infeliz. Provavelmente fui sacudido. O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos.

Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da minha infância, e as conseqüências delas me acompanharam.

O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de semelhante maneira.

Onde estava o cinturão? Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro.

Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo.

A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido, movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos. Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes, mas não se tratava disto. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal.

Minha mãe, José Baía, Amaro, sinhá Leopoldina, o moleque e os cachorros da fazenda abandonaram-me. Aperto na garganta, a casa a girar, o meu corpo a cair lento, voando, abelhas de todos os cortiços enchendo-me os ouvidos — e, nesse zunzum, a pergunta medonha. Náusea, sono. Onde estava o cinturão? Dormir muito, atrás dos caixões, livre do martírio.

Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que rogos e adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobre-diabo.

Achava-me num deserto. A casa escura, triste; as pessoas tristes. Penso com horror nesse ermo, recordo-me de cemitérios e de ruínas mal-assombradas. Cerravam-se as portas e as janelas, do teto negro pendiam teias de aranha. Nos quartos lúgubres minha irmãzinha engatinhava, começava a aprendizagem dolorosa.

Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala como carrapeta, eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir, quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me, num desespero.

O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível.

Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, coçar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado.

Pareceu-me que a figura imponente minguava — e a minha desgraça diminuiu. Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.

Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.

Foi esse o primeiro contato que tive com a justiça.

(postagem 200)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Cicloturismo

Bike













Cicloturismo

Fonte: http://www.escoladebicicleta.com.br

Cicloturismo é a melhor e mais tranqüila face de todas as opções oferecidas pela bicicleta. Pode ser um curto pedalar pela estradinha calma que liga o campo à cidade, ou uma longa e difícil viagem detalhadamente planejada. Sempre representa um prazer especial.

O ciclista se encontra com cores, formas, cheiros, sons, natureza, detalhes e mais detalhes da paisagem. A bicicleta permite que o ambiente seja vivenciado. Já, na velocidade de qualquer veículo motorizado tudo vai passando, ficando para trás.

Não é necessário ser um ciclista experiente para fazer cicloturismo. Qualquer um pode fazê-lo. Basta ir com calma, respeitar os próprios limites, beber água e alimentar-se na hora certa e assim vencer pouco a pouco a distância.

No cicloturismo há sempre uma sensação de aventura, retorno à infância, mistura de liberdade e molecagem sadia. É um escapar da mesmice. Bicicletas são simples e revelam que a vida pode ser muito simples. Permitem uma viagem relativamente rápida e ainda assim relaxada; e a um preço muito, muito baixo.

E os problemas? Cansou? Quer voltar? Pegue uma carona ou enfia a bicicleta num ônibus. Quebrou a bicicleta? É fácil encontrar quem conserte bicicletas. Onde você vai dormir não tem garagem? Enfia a bicicleta dentro do quarto.

Há regras e limites, como para tudo. No cicloturismo é respeitar Leis de trânsito e meio ambiente, além e principalmente, respeitar as regras do bom senso e da boa convivência. Enfim, no cicloturismo até os problemas são simples de resolver.

Escolha a sua forma de cicloturismo e divirta-se.

A melhor viagem que fiz na vida foi quando saí de casa para uma simples pedalada, com a única idéia de diminuir as tensões, e acabei voltando quatro dias depois.

Bem distante de casa, tive o cuidado de avisar o meu pessoal e pronto. Estava vestido com roupa de ciclismo, óculos e capacete. Portava a carteira e o cartão.

Era só eu e minha bicicleta de estrada, mais água, uma câmara reserva, três espátulas e a bomba de pneu; e só.

Encontrei local simples e simpático para dormir. Comprei shorts e camiseta bem baratos, e lavei a roupa de ciclismo à noite. Durante o dia saía para pedalar nos arredores. Parava para almoçar prato feito.

Simples e maravilhosos dias!

(postagem 199)

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Fagner

Música














Fagner

Raimundo Fagner Cândido Lopes, cearense de Orós, aos 5 anos ganhou um concurso infantil na rádio local. Na adolescência formou grupos musicais vocais e instrumentais e começou a compor suas próprias músicas.

Venceu em 1968 o IV Festival de Música Popular do Ceará com a música "Nada Sou", parceria sua e de Marcus Francisco. Tornou-se popular no estado e juntou-se a outros compositores cearenses como Belchior, Rodger Rogério, Ednardo e Ricardo Bezerra.

Mudou-se para Brasília em 1971, classificando-se em primeiro lugar no Festival de Música Popular do Centro de Estudos Universitários de Brasília com "Mucuripe" (com Belchior). Ainda em 71 foi para o Rio de Janeiro, onde Elis Regina gravou "Mucuripe", que se tornou o primeiro sucesso de Fagner como compositor e também como cantor, pois gravou a mesma música em um compacto da série Disco de Bolso, que tinha, do outro lado, Caetano Veloso interpretando "Asa Branca".

O primeiro LP, "Manera, Fru-fru, Manera", veio em 1973 pela Philips, incluindo "Canteiros", um de seus maiores sucessos, música sobre poesia de Cecília Meireles. Mais tarde fez a trilha sonora do filme "Joana, a Francesa", que o levou à França, onde teve aulas de violão flamenco e canto.

De volta ao Brasil, lança outros LPs na segunda metade dos anos 70, combinando um repertório romântico a partir de "Raimundo Fagner", de 1976, com a linha nordestina de seu trabalho. Ao mesmo tempo grava músicas de sambistas, como "Sinal Fechado", de Paulinho da Viola.

Outros trabalhos, como "Orós", disco que teve arranjos e direção musical de Hermeto Pascoal, demonstram uma atitude mais vanguardista e menos preocupada com o sucesso comercial.

Nas décadas de 80 e 90 seus discos se dividem entre o romântico e o nordestino, incluindo canções em trilhas de novelas e tornando Fagner um cantor conhecido em todo o país, intérprete e compositor de enormes sucessos, como "Ave Noturna" (com Cacá Diegues), "Astro Vagabundo" (com Fausto Lindo), "Última Mentira" (com Capinam), "Asa Partida" (com Abel Silva), "Corda de Aço" (com Clodô), "Cavalo Ferro" (com Ricardo Bezerra), "Fracassos", "Revelação" (Clodô/ Clésio) "Pensamento", "Guerreiro Menino" (Gonzaguinha), "Deslizes" (Sullivan/ Massadas) e "Borbulhas de Amor".

Vamos ouvir Fagner?


Canteiros 
(Fagner e Cecilia Meireles)

Quando penso em você fecho os olhos de saudade
Tenho tido muita coisa, menos a felicidade
Correm os meus dedos longos
Em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego
Já me dá contentamento

Pode ser até manhã, cedo, claro, feito dia
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois se não chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço sem ter visto a vida

Eu só queria ter do mato
Um gosto de framboesa
Pra correr entre os canteiros
E esconder minha tristeza

E eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois se não chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço sem ter visto a vida


Ouvir












https://www.youtube.com/watch?v=7qLUki3_2Ak

(postagem 198)

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

6 Dicas para ganhar mais velocidade em ações estratégicas!

Qualidade














6 Dicas para ganhar mais velocidade em ações estratégicas!


No último post sobre qualidade falamos em ser “mais rápido, mas sem pressa”. Vamos continuar nesse tema, falando um pouco mais sobre velocidade nas ações.

Fonte: http://www.blogdaqualidade.com.br/


1 – Equalize diferenças individuais de tempo e propósito

Toda organização quer ser ágil, sem dúvida, porém, demora-se muito para decidir. Mas por que? Cada pessoa na organização tem seu próprio conceito de pontualidade, urgência, prioridade e tolerância, e muitas vezes a soma desses conceitos individuais se transforma na cultura onde briga-se para ver quem tem a decisão mais ”legal”, ou seja, “decidir pelo ego”, onde cada pessoa coloca a frente de qualquer decisão os seus próprios interesses de carreiras, recompensas, entre outros motivos, formando com o tempo um “conversa muito e faz pouco”. Ou até quando as pessoas estão mais preocupadas com as situações periféricas do que com as questões centrais, gerando um desperdício enorme de tempo.

2 – Conversas demais não eliminarão as incertezas

O tempo investido em ações é que vai gerar resultados direto, e isso não quer dizer que não se pode trocar ideias e buscar experiências para benchmarking, mas que você tem outras opções, como por exemplo realizar testes e/ou simulações. As vezes ficamos tão presos em detalhes e o que é realmente importante a gente não discute, trazendo mais lentidão para o processo.

3 – Velocidade significa não se paralisar

Movimentar-se é manter uma postura empreendedora que não precisa estar só na liderança, mas em toda organização em diversos níveis hierárquicos. São pessoas que tem a postura de fazer acontecer, que corre atrás dos recursos necessários e foca nas atividades certas para gerar resultados.

4 – Erradicando procrastinação e imobilismo através de líderes empreendedores

Transformar ideias em realidade pode ser um dos desafios determinantes na qualidade dos resultados. A pior situação é aquela que tudo se limita em argumentações e nem se começa agir, ou seja, as ações ficam cativas nas conversações. Embora pareça algo normal na cultura geral, há exemplos de tendências procrastinas erradicadas através de líderes que injetaram valores pró-ação. Às vezes uma pergunta como “por que não agora?” fará todos pensarem no que é necessário para realmente agir, onde uma ação vai puxar outra criando elos para as coisas acontecerem de fato.

5 – Pressa é inimiga da perfeição, mas velocidade é qualidade.

Ao confundir pressa com velocidade a gente encontra uma desculpa para desvincular velocidade e qualidade. Quando se fala de velocidade falamos de produzir muito em pouco tempo, ou seja, aumentar a produtividade. O tempo não pode ser visto como um inimigo mecânico que reduz a possibilidade de se fazer ações com excelência, a prioridade sempre será a qualidade de atenção e de energia criativa com foco na ação para gerar resultado.

Quantidade pode até ser dependente do tempo, mas qualidade é um fator interdependente do tempo, ou seja, velocidade é qualidade. Para auxiliar nessa ação, você pode viabilizar a eficiência da capacidade humana através de ferramentas estratégicas.

6 – Foco no que pode dar certo

Não há nada mais paralisador que uma equipe que pensa excessivamente em erros do passado, e gera-se uma cultura de medo. Motivação embasada em medo e erros anteriores reduz percepção e sabota a criatividade. Imagine que um plantador após semear a planta, arrancasse a mesma constantemente do solo para o desenvolvimento de suas raízes.

Você deve sempre implantar mecanismos para acompanhar resultados, e sim, você tem que estar preparado para o que pode dar errado, mas deve estar ciente que replanejar uma ação não é pecado. A motivação se renova a medida em que se vai pra frente! É preciso energia máxima em fazer acontecer para gerar a cultura de o que pode dar certo de uma ideia e por que pode dar certo, concentrando-se nos pontos fortes das pessoas e da organização.

(postagem 197)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Bê-a-Bá do corredor - Parte 2

Corridas e Caminhadas














Bê-a-Bá do corredor
Parte 2

Para quem começou agora, veja esse dicionário com os termos mais utilizados na corrida. Estamos fazendo a postagem em três etapas, iniciamos com o post do dia 24 de setembro, prosseguindo com o post de hoje e finalizaremos dia 31 de outubro. Boa leitura e bom proveito.

A corrida possui um vocabulário específico, e não saber algumas palavras pode deixar um atleta “boiando” nas conversas durante os treinos e provas, ou sem entender uma instrução do seu treinador.

Para acabar com qualquer dúvida reunimos em um pequeno dicionário os principais bordões utilizados nas ruas do Brasil.

Educativos: são exercícios de saltos e elevação dos joelhos que contribuem para melhorar a coordenação, a postura, a eficiência e a economia na execução dos movimentos da corrida. Podem ser usados como parte do aquecimento.

Endorfina: substância produzida pelo cérebro em resposta à atividade física, com intenção de dar prazer e despertar a sensação de euforia e bem-estar.

Ergometria: teste de esforço realizado em uma esteira ou bicicleta ergométrica para medir o esforço físico e os efeitos fisiológicos do exercício.

Escala de Borg: escala em que o corredor usa sua percepção para saber a intensidade de esforço durante o exercício. A tabela mais usada é: 0 - repouso; 1 - muito leve; 4 - leve; 6 - moderado; 8 -intenso; 10 - exaustivo.

Estar no caixote: expressão utilizada em alguns Estados brasileiros, refere-se ao momento da largada em que os corredores ficam cercados por outros atletas mais lentos e não conseguem imprimir o ritmo desejado desde o início.

Estiramento muscular: uma das lesões mais comuns entre os corredores. As fibras musculares se rompem porque é exigida uma força além do que elas podem gerar. Costuma acontecer por falta de aquecimento, esforço excessivo ou fadiga.

Exercício físico: é uma atividade física planeja e estruturada, com o intuito de melhorar ou manter o condicionamento físico.

Exercício aeróbio: tipo de exercício em que a energia utilizada é gerada pela queima de oxigênio. Deve ser realizado em uma intensidade baixa ou moderada, e pode ser mantido por um longo período.

Exercício anaeróbio: tipo de exercício em que a energia utilizada independe do oxigênio. É uma atividade de curta duração e alta intensidade, que libera mais ácido lático do que o corpo pode eliminar. Isso provoca a o cansaço.

Fartlek: tipo de treino em que o corredor alterna ritmos fortes e leves a cada determinado espaço de tempo ou distância, mas sem fazer intervalos.

FC Máx: sigla de “frequência cardíaca máxima”. Determina o limite que os batimentos do coração podem chegar com segurança durante o exercício físico. Pode ser obtida pelo teste ergoespirométrico ou estimada por fórmulas matemáticas.

Frequência basal : é a frequência cardíaca em repouso. Seu aumento é um indicador de cansaço.

Gasto calórico: aponta quantas calorias o corpo gasta durante um determinado tempo de exercício.

Glicogênio muscular r: é o principal combustível do corpo durante a prática de atividades físicas. É estocado no organismo com a ingestão de alimentos ricos em carboidratos.

Hidratação: é a reposição de líquidos no organismo.

Hipertrofia muscular: é o aumento da massa muscular em resposta ao treinamento de força.

Índice de massa corporal : é a relação do peso (kg) sobre a altura (m), e indica se uma pessoa adulta está obesa, acima do peso, ou abaixo do considerado saudável.

Intervalado: também conhecido como treino de tiro, tem como principal finalidade melhorar a resistência ao ácido lático e a velocidade do corredor. Nele o atleta corre em alta intensidade durante um determinado espaço de tempo ou distância e faz um intervalo, que pode ser uma pausa, uma caminhada ou uma corrida leve, entre uma repetição e outra.

Jogger: pessoa que pratica a corrida apenas por prazer, bem-estar ou para perder peso, sem se preocupar com o desempenho.

Limiar: é a frequência em que ocorrem mudanças cardíacas que alteram a fonte de energia usada pelo corpo.

Limiar aeróbio (L1): faixa de frequência cardíaca em que o atleta passa a fazer o exercício aeróbio.

Limiar anaeróbio (L2): faixa de frequência cardíaca em que o atleta passa a fazer o exercício anaeróbio.

Longão: tipo de treino em que o principal objetivo é percorrer longas distâncias em um ritmo constante. Geralmente é realizado aos fins de semana.


(postagem 196)

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Lean na Gestão Pública: O caso Melbourne

Gestão













Lean na Gestão Pública: O caso Melbourne

Por: José Roberto Ferro

Fonte: http://epocanegocios.globo.com/


COMO UM JEITO DIFERENTE DE GOVERNAR COLOCOU A CIDADE AUSTRALIANA NO TOPO DA LISTA DAS MELHORES PARA SE VIVER

A cidade de Melbourne, na Austrália, foi escolhida como a melhor cidade para se viver, mantendo-se nessa posição nos últimos quatro anos.

Essa escolha baseou-se em trabalho realizado pela organização de pesquisa da revista "The Economist". Foram avaliadas 140 cidades em todo o mundo a partir de parâmetros, como cultura e ambiente, estabilidade, educação, saúde e infraestrutura, que permitiram definir as cidades com melhores condições de vida.

Melbourne é a segunda maior cidade da Austrália, com 4,5 milhões de habitantes, e capital do Estado de Vitoria. Fundada em 1847, tem uma governança local dividida entre o governo estadual e várias cidades que compõem a zona metropolitana. A figura do prefeito é essencialmente decorativa, e os gestores são profissionais.

Os bons indicadores de Melbourne são conseguidos a partir de uma gestão capacitada e definições políticas do governo estadual e das câmaras municipais que se preocupam com as questões de transporte público, estradas principais, controle do trânsito, segurança, educação acima da pré-escola, saúde e planejamento dos principais projetos de infraestrutura.

Há cerca de cinco anos, a cidade tem passado por um esforço de transformação usando os princípios lean (“enxutos”) e vem aplicando os métodos, práticas e conceitos da filosofia lean de gestão nos principais fluxos de valor do governo municipal para tornar as coisas mais rápidas, melhores e mais baratas para os cidadãos e colaboradores.

Uma nova CEO (ou presidente) assumiu a gestão da cidade em 2008 com a promessa de aumentar a qualidade e a eficiência dos serviços públicos. Médica com experiência na aplicação dos princípios lean na saúde, diretriz de praticamente todo o sistema de saúde do país, quis levar esses conhecimentos acumulados para a gestão local.

O propósito é claro: apoiar a organização a entregar mais valor sob a forma de mais e melhores serviços em resposta à demanda crescente da população, sempre buscando a melhor utilização possível dos recursos já existentes.

Dezenas de fluxos de valor foram melhorados desde o apoio a cidadãos que solicitam documentos, serviços aos turistas, processamento de autorizações, melhoria da gestão de parques, novas práticas nas bibliotecas, sistema de avaliação do valor das propriedades, atividades básicas de saúde e educação, entre outras e várias atividades dos serviços municipais.

Os resultados têm sido a oferta de cada vez mais serviços na medida em que se liberou capacidade de trabalho, melhor qualidade desses serviços e maior satisfação dos colaboradores, mostrando que só é possível essas mudanças ocorrerem se houver o engajamento dos líderes e colaboradores na gestão dos serviços públicos.

Tem havido um esforço recente no sentido de criar lideranças que estimulem um novo modo de pensar crítico que perceba que, por mais progresso que já se tenha feito, ainda há muitas oportunidades de melhoria, sempre tendo como perspectiva os cidadãos. Ou seja, preocupa-se agora em criar uma cultura capaz de continuamente melhorar os processos, independentemente dos ciclos políticos.

Ano após ano, temos testemunhado o poder transformador de a filosofia lean passar da indústria, em seus variados setores, para as atividades de serviços. E temos certeza de que será também capaz de transformar a administração pública.

Vamos ver cada vez mais cidades e governos em todo o mundo procurando usar o sistema lean para transformar a gestão e trazer resultados substancialmente melhores, como a experiência de Melbourne mostra.

As cidades do Brasil estão muito longe das principais posições nesse ranking de melhores cidades para se viver. E estão longe de usar algumas técnicas básicas de gestão. Quanto mais as práticas lean.

Mas o nível de insatisfação com a péssima qualidade e extensão dos serviços públicos é tamanho que cremos ser inevitável uma mudança profunda na gestão.

Uma reforma política que: altere a necessidade de apoios de múltiplos partidos para ganhar eleições; gerencie dando partes da administração e dos recursos financeiros públicos a partidos (cujos interesses não são exatamente os mesmos dos cidadãos); e providencie uma redução de impostos, obrigando a uma maior eficiência, são alguns dos pré-requisitos para uma gestão mais profissional e eficaz que há de ocorrer.

O que faz uma cidade boa para se viver é resultado de boas práticas de gestão.

(postagem 195)

domingo, 5 de outubro de 2014

Fernando Sabino

Leitura














Fernando Sabino

Nascido em Belo Horizonte no dia 12 de outubro de 1923, o escritor e cronista Fernando Tavares Sabino era o último vivo do quarteto mineiro de escritores integrado por Hélio Pellegrino (1924-88), Otto Lara Resende (1922-92) e Paulo Mendes Campos (1922-91). Essa amizade inspirou Sabino a escrever "O Encontro Marcado" (1956), seu livro de maior sucesso.

Além de "O Encontro Marcado", suas principais obras foram "O Homem Nu" (1960), "O Menino no Espelho" (1982) e "O Grande Mentecapto" (1979), que deu a Sabino o Prêmio Jabuti.

Aos 17 anos, ao decidir ser gramático, escreveu uma crítica sobre o dicionário de Laudelino Freire no jornal "Mensagem", e publicou também artigos literários em "O Diário", ambos em Minas Gerais.

No início da década de 1940, começou a cursar a Faculdade de Direito e ingressou no jornalismo como redator da "Folha de Minas". Seu primeiro livro de contos, "Os Grilos não Cantam Mais", foi publicado em 1941, no Rio.

Em 1944, muda-se para o Rio de Janeiro e torna-se colaborador regular do jornal "Correio da Manhã", do Rio, onde conhece Vinicius de Moraes, de quem se tornaria amigo.

Depois de se formar em Direito na Faculdade Federal do Rio de Janeiro em 1946 viaja com Vinicius de Moraes aos Estados Unidos, morando por dois anos em Nova York, onde trabalha no Escritório Comercial do Brasil e no Consulado Brasileiro.

Em 1947, envia crônicas para serem publicadas em jornais como "Diário Carioca" e "O Jornal", do Rio, que são reproduzidas em vários veículos do Brasil. Começa a produzir os livros "Ponto de Partida" e "Movimentos Simulados" que, apesar de não serem concluídos, serão aproveitados em "O Encontro Marcado".

"O Encontro Marcado", uma de suas obras mais conhecidas, é lançada em 1956, ganhando edições até no exterior, além de ser adaptada para o teatro.

Sabino decide, em 1957, viver exclusivamente com escritor e jornalista. Inicia uma produção diária de crônicas para o "Jornal do Brasil", escrevendo mensalmente também para a revista "Senhor".

Em 1960, o escritor publica o livro "O Homem Nu" na Editora do Autor, fundada por ele, Rubem Braga e Walter Acosta.

Entre final dos anos 60 e início dos 70, viaja para diversas partes do mundo como correspondente de veículos brasileiros, produzindo reportagens sobre países como Alemanha, Portugal, Itália, França, Inglaterra, Estados Unidos e Argentina.

Termina o romance "O Grande Mentecapto" em 1979, iniciado mais de 30 anos antes. A obra, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti, acabaria sendo adaptada para o cinema e o teatro anos depois.

Em 1991, lançou o livro "Zélia, uma Paixão", biografia autorizada de Zélia Cardoso de Mello, ministra da Economia do governo Fernando Collor (1990-92), trabalho que o autor se recusava a comentar. Acreditava ter sido vítima de hostilidade por causa dele.

Em julho de 1999, recebe da Academia Brasileira de Letras o prêmio "Machado de Assis" pelo conjunto de sua obra.

Publica em 2004 o romance "Os Movimentos Simulados", da editora Record, totalizando uma produção literária de mais de quatro dezenas de obras em 80 anos de vida.

Um dia antes de completar 81 anos, morre no dia 11 de outubro de 2004 vítima de câncer no fígado. O escritor lutava contra a doença desde 2002.

O corpo de Sabino foi sepultado ao som de canções de jazz, tradicionais em funerais de Nova Orleans (EUA), na manhã do dia 12 de outubro, no cemitério São João Baptista, em Botafogo, zona sul do Rio.

Vamos ler um conto de Fernando Sabino.


A mulher do vizinho
(Fernando Sabino)

Contaram-me que na rua onde mora (ou morava) um conhecido e antipático general de nosso Exército morava (ou mora) também um sueco cujos filhos passavam o dia jogando futebol com bola de meia. Ora, às vezes acontecia cair a bola no carro do general e um dia o general acabou perdendo a paciência, pediu ao delegado do bairro para dar um jeito nos filhos do sueco.

O delegado resolveu passar uma chamada no homem, e intimou-o a comparecer à delegacia.

O sueco era tímido, meio descuidado no vestir e pelo aspecto não parecia ser um importante industrial, dono de grande fabrica de papel (ou coisa parecida), que realmente ele era. Obedecendo a ordem recebida, compareceu em companhia da mulher à delegacia e ouviu calado tudo o que o delegado tinha a dizer-lhe. O delegado tinha a dizer-lhe o seguinte:

— O senhor pensa que só porque o deixaram morar neste país pode logo ir fazendo o que quer? Nunca ouviu falar numa coisa chamada AUTORIDADES CONSTITUÍDAS? Não sabe que tem de conhecer as leis do país? Não sabe que existe uma coisa chamada EXÉRCITO BRASILEIRO que o senhor tem de respeitar? Que negócio é este? Então é ir chegando assim sem mais nem menos e fazendo o que bem entende, como se isso aqui fosse casa da sogra? Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro: dura lex! Seus filhos são uns moleques e outra vez que eu souber que andaram incomodando o general, vai tudo em cana. Morou? Sei como tratar gringos feito o senhor.

Tudo isso com voz pausada, reclinado para trás, sob o olhar de aprovação do escrivão a um canto. O sueco pediu (com delicadeza) licença para se retirar. Foi então que a mulher do sueco interveio:

— Era tudo que o senhor tinha a dizer a meu marido?

O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.

— Pois então fique sabendo que eu também sei tratar tipos como o senhor. Meu marido não é gringo nem meus filhos são moleques. Se por acaso incomodaram o general ele que viesse falar comigo, pois o senhor também está nos incomodando. E fique sabendo que sou brasileira, sou prima de um major do Exército, sobrinha de um coronel, E FILHA DE UM GENERAL! Morou?

Estarrecido, o delegado só teve forças para engolir em seco e balbuciar humildemente:

— Da ativa, minha senhora?

E ante a confirmação, voltou-se para o escrivão, erguendo os braços desalentado:

— Da ativa, Motinha! Sai dessa...

(postagem 194)