segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

José Mauro de Vasconcelos

Leitura













José Mauro de Vasconcelos

José Mauro de Vasconcelos nasceu em 26 de fevereiro de 1920, no Rio de Janeiro. Passou a infância em Natal, RN. Sua família era muito pobre e José Mauro passou por muitas dificuldades. Seu grande sonho de infância era ser nadador profissional e chegou a ganhar alguns prêmios em campeonatos que participava.

Tinha uma personalidade muito inconstante. Aos quinze anos mudou-se sozinho para o Rio de Janeiro, teve diversos empregos para conseguir se sustentar. Percorreu o Brasil de norte a sul; foi treinador de boxe, agricultor, operário, garimpeiro, carregador de bananas, ator de cinema, jornalista, locutor de rádio e escritor.

Iniciou diversos cursos superiores, mas nunca concluiu nenhum deles.

Seu primeiro romance Banana Brava fixa a aventura vivida por ele em terras do Rio Araguaia. Em 1968 escreveu sua obra mais conhecida O meu pé de laranja lima, baseada em sua infância; nos primeiros meses de lançamento vendeu mais de 217 mil exemplares.

José Mauro de Vasconcelos é figura controvertida da literatura brasileira, marginalizado pela crítica e aclamado pelo público, é autor de largas tiragens com sucessivas reedições.

Faleceu em julho de 1984 em São Paulo.

Algumas Obras: Banana brava, Barro blanco, Coração de vidro, Rosinha - minha canoa, Rua descalça, Palácio japonês, Vamos aquecer o sol, O meu pé de laranja lima.


O passarinho, a escola e a flor

(trecho de Meu Pé de Laranja Lima)

CASA NOVA. Vida nova e esperanças simples, simples esperanças.
Lá vinha eu entre seu Aristides e o ajudante, no alto da carroça, alegre como o dia quente.
Quando ela saiu da rua descalça e entrou na Rio-São Paulo foi àquela maravilha, a carroça agora deslizava macia e gostosa.
Passou um carro lindo ao nosso lado.
— Lá vai o carro do português Manuel Valadares. Quando íamos atravessando a esquina da Rua dos Açudes, um apito ao longe encheu a manhã.
— Olhe seu Aristides. Lá vai o Mangaratiba.
— Sabe tudo você, não?
— Conheço o grito dele. Só as patas dos cavalos fazendo o toque-toque naestrada. Observei que a carroça não era muito nova. Ao contrário. Mas era firme, econômica. Com mais duas viagens traria todos os nossos cacarecos. O burro não parecia muito firme. Mas eu resolvi agradar.
— O senhor tem uma carroça muito linda, seu Aristides.
— Dá pro que serve.
— E o burro também é bonito. Como se chama ele?
— Cigano.
Ele não queria muito conversar.
— Hoje é um dia feliz pra mim. A primeira vez que eu ando de carroça. Encontrei o carro do Português e escutei o Mangaratiba.
Silêncio. Nada.
— Seu Aristides, o Mangaratiba é o trem mais importante do Brasil?
— Não. É o mais importante dessa linha.
Não adiantava mesmo. Como era às vezes difícil entender gente grande!
Quando chegamos defronte da casa, entreguei a chave a ele e tentei ser cordial...
— O senhor quer que eu ajude em alguma coisa?
— Só ajuda se não ficar em cima da gente atrapalhando. Vá brincar, que a gente chama você quando voltar.
Peguei e fui.
— Minguinho, agora a gente vai viver sempre perto um do outro. Vouenfeitar você de tão bonito que nenhuma árvore pode chegar a seus pés. Sabe, Minguinho, eu viajei agora numa carroça tão grande e macia que parecia uma diligência daquelas das feitas de cinema. Olhe, tudo que eu souber, venho contar a você, ‘tá?
Cheguei perto do capinzal do valão e olhei a água suja escorrendo.
— Como foi que combinamos noutro dia que esse rio ia se chamar?
— Amazonas.
— É mesmo. Amazonas. Ele lá pra baixo deve estar cheio de canoa de índio selvagem, não tá Minguinho?
— Nem me fale. Só pode estar mesmo.
Nem bem a gente entrosava a conversa e lá estava seu Aristides fechando a casa e me chamando.
— Você fica ou vai com a gente?
— Vou ficar. Mamãe e minhas irmãs já devem vir vindo pela rua.
E fiquei estudando cada coisa de cada canto.


(postagem 103)

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